segunda-feira, 27 de julho de 2009

DIVINO TRIGO

A rua de Santana, na Cidade Nova, é conhecida como o império das lojas de equipamentos para restaurantes. São coifas, máquinas de café, fogões industriais, chapas, liquidificadores industriais, suqueiras, e por aí vai. Além disso tem um correio, uma agência bancária, uma lavanderia, um chaveiro e um estacionamento. E bares? Bares, para ser mais específico, botecos, não tem. Existem dois pequenos restaurantes, que dão de comer ao povo que trabalha por perto, mas para beber fica difícil.

A única salvação da rua é a padaria Divino Trigo, comandada pelo Adelino pai e Adelino filho, este último é mais conhecido como Frank. A casa abre às cinco e meia da manhã, e fecha às vinte e três horas. Quem der as caras no local certamente será bem atendido pelos empregados Daniel, China, Calixto e Manel, que comandam o balcão com maestria. A eficácia, o sorriso e a galhofa, fazem parte do atendimento deste time.

A padaria fabrica produtos diversos, que estão sempre frescos. Até a extinta bisnaga ainda é feita por lá. Bom, isso tudo é previsível quando falamos de uma padaria, mas o atrativo principal é outro, a cerveja. Sempre de trincar os dentes, as garrafas começam a habitar o balcão só no início da noite, quando o cafezinho deixa de reinar. Para acompanhar a bebida, pede-se geralmente uma porção de salaminho, que vem muito farta, tem também o tradicional ovo cozido, azeitona, e outros acepipes mais. Meu predileto é o ovo frito com gema mole para molhar com pão.

Segue a recomendação para quem estiver passando por estas bandas. Vale a pena dar uma entrada pedir uma cerveja gelada.











Até.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

GLORIOSA NOITE NA GLÓRIA

Semana passada consegui um raro momento para beber cerveja. Um amigo meu aqui do trabalho, o Baiano, disse-me que seu tio estava de férias no Rio e procurava alguns bares sujos para beber.

Como ele zanzava pelo centro, saímos da labuta e fomos ao seu encontro. Baiano disse-me que o coroa gostava mesmo é de pé-sujo, então foi para onde o levamos. Primeiro levei-lhe no bar do seu Davi, glorioso botequim que impera na esquina de rua do Senado com Inválidos, onde terças e quintas cantam seu Jorge e seu Waldir. Vejam aqui e aqui.

Caminhamos por outros bares conhecidos, e andamos um bocado sem nos dar conta. Confesso que fazia um passeio para agradar o caboclo, e em certos momentos parecia turismo. Passamos rapidamente pelos arcos, e acabamos dando de cara com o Beco do Rato, que ele ouvira falar e queria conhecer. Teve tempo apenas de dar uma golfada diante do lixo que encontrou, com gente esquisita e "underground", e suplicou por um outro boteco.

Como o Chico, este é nome dele, ficou tão nervoso com o que viu, pediu um bar com urgência. A primeira coisa que pensei foi tirá-lo do infeliz burburinho daquele lugar, e o levei em direção a Gloria. Fomos, por sorte divina, parar diante de uma das mais antigas casas de saliência da cidade, a termas Rio Antigo. Perguntou-me se era um hotel, pois achou a arquitetura muito bonita e imponente, mas não precisou de muito tempo para notar que o ramo comercial ali era outro. Por causa de sua curiosidade exagerada com o lugar, acabamos entrando no bar localizado exatamente defronte à casa das primas, na esquina de Joaquim Silva com Augusto Severo. Chamam o local de bar Glorioso, mas não vi nenhuma placa no mesmo.

O lugar era escuro, sujo e escroto. Eu, que devo ser o cara que mais adoro estes balcões radicais, cheguei a torcer o nariz quando entrei. Mas é o que falo sempre, foi só começar a pedir as bebidas e comidas para ter a certeza de como sou feliz quando piso nos meus botecos. A cerveja chegou na minha frente fumegando mais do que a bomba atômica, de rachar os dentes. Os ovos que pedimos estavam fresquinhos, saudáveis, bons para caralho. E arrematamos com uma porção de fígado acebolado que nem minha vó faz igual. Nesta altura do campeonato o Chico já bradava na calçada atacando o tal do beco do rato com xingamentos que não posso escrever aqui. Delirava naquele canto imundo, doido para entrar no tal "hotel" e ver as meninas.






Os atendentes do pé-sujo eram mudos, somente colocavam os pedidos diante de nós. Anônimos diversos tentavam a sorte na jogatina. Do lado de fora, além de nós estava um coroão que mais parecia um desenho animado. O cara tinha uma juba estilo "black", daquelas que o João Saldanha reprovaria na certa, e estava mais imundo do que a cozinha do Belmonte. Trata-se de um mecânico da área, que vive por ali no intuito de ver as damas entrando e saindo do trabalho no "hotel". O cara é um negão de cabelo branco, e seu nome é Xavante. É complicado pessoal, mas é isso.

O cidadão estava meio na dele, fumando seu cigarrinho, mas depois de umas doses de São João da Barra e copos de cerveja já dançava Maicou Jéquison na calçada, para o aplauso dos que passavam e estavam ali. Convidou-nos para um churrasco que faz toda a semana, e disse que já comeu todo mundo dentro do "hotel", afirmando já ter até perdido a graça entrar ali. Foi um furdunço geral.







Eu sei o seguinte... A pouquíssimos metros dali, no calçadão da Glória, outras meninas desfilam pomposas e posudas, guardando no interior de suas vestes minúsculas dotes um pouco diferentes. Espero que nosso dançarino "black power' não tenha confundido o cardápio.

Salve o bar, salve o bar!