quarta-feira, 4 de maio de 2011

UM PASSEIO AMEAÇADO

Quase cinco meses após minha última aparição por aqui, volto para dar vida ao blog. Quero lembrar que ele está em fase de transição, coisas novas irão acontecer e textos serão colocados no ar com muito mais frequência. Este grande hiato deveu-se ao tempo dedicado a trabalho e estudo somado com falta de saco.

Bom amigos, o retorno não seria agora mas fui meio forçado depois de um passeio que fiz pela cidade em uma noite da semana passada. O texto de hoje tem a ver com um que já fiz em dezembro de 2009, relembrem aqui, é coisa rápida. Naquela ocasião falava sobre a obra absurda da Petrobrás que estavam fazendo no casco velho do centro, perto ali da rua dos Inválidos com rua do Senado. Pois bem, semana passada recebi o telefonema do Seu Davi, dono desse botecaço aqui, e ele me informou que o bar iria acabar, assim como muitos outros casarios e bares ao redor. Preferi desligar o telefone e combinei para conversarmos ao vivo sobre o assunto. Marcamos na quarta-feira passada e passei por lá depois do trabalho. Ao me aproximar já me assustei com os gigantes edifícios, quase prontros, da nossa empresa de petróleo que contrastam tristemente com casarios seculares. Vale lembrar que a igreja de Santo Antônio do Pobres que foi erguida em 1811, portanto há exatos duzentos anos, está toda cheia de rachaduras enormes e várias outras casas e prédios vizinhos estão na mesma condição. Pedi uma Brahma, sempre gelada, e botamos o papo em dia. O que ele me contou foi simplesmente assustador, a ponto de eu não acreditar no começo. O bar dele, assim como quase um quarteirão inteiro de lindos casarios que deveriam ser conservados e tombados, irão abaixo para que seja erguido um shopping de sete andares. Culpa de capitalistas filhos da puta, que não estão nem aí para a importância do local, como a construtora responsável por isso tudo, a W TORRE, que ergue um concreto estúpido sem responsabilidade alguma.


Triste contraste entre nas duas fotos acima


O espetacular Armazém Senado, que fica ao lado, parece que não sucumbirá, mas tenho dúvidas e preocupações quanto ao seu futuro, pois depois que começar o expediente ali, as pacatas ruas do local virarão um inferno de carros e milhares de pessoas. Como disse no texto de 2009, por que não construir isso em um outro local? A Barra, cheia de modernidade seria o ideal. Não houve um só homem com peito para tomar frente e tentar impedir o absurdo, e agora o Rio de Janeiro e seu povo que o ama, perderá MUITO com mais essa palhaçada.

A prosa durou por três cervejas, e depois decidi fazer um tour para analisar o que podemos perder. Saí do bar do Seu Davi e passei por uns seis bares que estavam com seus clássicos ébrios de cada dia, que estão ameaçados de ficarem órfãos. Bares renomados e imundos como o Araujópolis, Bar do Peixe, Sucos e Balas 1001, Bar do Deda, Sinuca de Bico e outros, talvez não poderão exercer mais o papel de hospital das almas para muitos que necessitam de conforto em seus balcões.

Em todos os bares, bebi cerveja estupidamente gelada e comi autênticos acepipes de botequim. Essa cerveja sempre gelada e os acepipes clássicos e generosos, estão ameaçados. A cultura do São Jorge no Altar, da arruda na garrafa de vidro, do lava-pés, do gole para o Santo antes de sua primeira golada, da amizade eterna, mesmo que seja por uma noite, entre dois desconhecidos, das incontáveis saideiras, a cultura das maravilhosas estantes com bebidas quentes, e várias outras mais, estão ameaçadas naquela região. Uma região histórica para a cidade com lindos casarões e seus sobrados seculares, que perdem para a estupidez do homem, que preferem a grana dos espigões do que a boniteza de lugar.

Para finalizar... Foi um passeio bonito, com tristeza e ao mesmo tempo esperança de não haver uma destruição total. Foi um passeio que pode não acontecer de novo.



Bar do Deda e suas bebidas



Pessoal relaxa no Sucos e Balas 1001



Engenhoca no banheiro do Bar do Peixe.


Balcão clássico do Araujópolis com direito a arruda.


Cerveja trincado no Araujópolis.


Arruda no balcão do bar do Deda.



Fim do passeio na Sinuca de Bico na rua do Resende.


Até.